quarta-feira, 3 de junho de 2009

Abusado, o dono do Morro Dona Marta

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A obra Abusado, o dono do Morro Dona Marta da Editora Record foi escrito em 2005 por Caco Barcellos, renomado jornalista que iniciou sua carreira na Folha da Manhã, trabalhou em veículos de imprensa alternativo, passou pelas revistas Repórter, Isto É e Veja, cobriu guerras mas se dedicou a reportagens investigativas, trabalha na Rede Globo desde 1985 onde já foi repórter do Jornal Nacional, do Fantástico do Globo Repórter e em 2002 virou correspondente da emissora em Londres. Atualmente esta de volta ao Fantástico como repórter do quadro Profissão Repórter.

O fato principal deste livro é a historia de vida de um poderoso traficante do Morro Dona Marta, apresentado pelo autor como Juliano VP, codinome utilizado para preservar a verdadeira identidade do criminoso. O livro também relata as dificuldades dos moradores da Favela em viver dignamente e o esforço de Juliano em se tornar um homem de bem, mas ao mesmo tempo caindo na tentação de ganhar dinheiro fácil e tentar dar uma vida menos sofrida a sua família, descreve como um garoto pobre cheio de sonhos cai nas armadilhas da vida e em pouco tempo torna-se um bandido cruel, passando por cima de algu
ns valores que possuía transformando se no homem mais procurado pela policia do Rio de Janeiro.

As aventuras vividas pelo traficante também são contadas pelo autor no livro, as fugas, o longo período em que Juliano morou fora do Brasil escondido da policia, os romances, as traições, a compaixão, a solidariedade, as festas, os assassinatos, a crueldade, a gravação do clip de Michael Jackson que tornou a Favela conhecida mundialmente. É difícil analisar a personalidade do protagonista dessa historia.

Após ler esse livro podemos ter certeza de que o ser humano não nasce bom ou mau, na maioria das vezes as condições de vida e a tentação nos levam para caminhos que nunca imaginávamos seguir. Foi o que aconteceu com VP que no inicio do livro não passa de uma criança normal como tantas da favela que estuda e sonha em trabalhar para não sofrer tanto com as condições precárias de vida do Morro. Mais a diante essa história muda de forma inesperada o seu percurso.

Alguns garotos sonham desde pequenos com o poder e com a aventura de ser um criminoso respeitado, Juliano só queria uma oportunidade de emprego com um salário digno para ajudar sua mãe com as despesas de casa.


É fácil falar aqui de livre arbítrio, a vida é feita de escolhas e o poder atrai muito esses meninos que muitas vezes estão cansados de serem humilhados pelo resto da sociedade que os julgam pelo lugar onde nasceram sem refletir e perceber que isso não é uma questão de escolha e sim de destino.


Mas afinal o que faz uma pessoa se arriscar tanto? O poder ou o medo de ser apenas mais um nas estatísticas? A busca por dignidade ou a falta dela? O fascínio ou a necessidade?
Ler este livro não responde a essas questões, mas nos leva a uma reflexão profunda sobre o que é viver em sociedade. Existe saída para um menino que só quer ser igual aos outros de sua escola? Porque algumas pessoas têm tanto e outras tão pouco? O que é certo e o que é errado quando se vive na miséria? Se a desigualdade não existisse haveria tanta violência? Dificilmente um dia teremos essas respostas, pois parece que estamos predestinados a viver nessa sociedade tirana em que as pessoas só se preocupam consigo mesmas.

Recomendo o livro a todas as pessoas que se preocupam com os problemas de desigualdade social e com o preconceito da nossa sociedade, pois o momento explicito de violência em que vivemos na sua maioria é culpa do descaso de nossos governantes perante esse povo tão sofrido e discriminado.

2 comentários:

Helena disse...

Boa Vanessão!
Tu vive falando desse livro, já coloquei na minha lista dos que quero ler.
Beijos

Anônimo disse...

Já dizia o Rapper...
"É muito fácil vir aqui me criticar, a sociedade me criou e agora manda me matar
Me condenar, me jogar na prisão, virar notícia de televisão.
Seria diferente se eu fosse mauricinho, criado à sustagem e leite ninho, colégio particular e depois faculdade... não é essa minha realidade.
Sou caboclinho comum, com sangue no olho, com ódio na veia... Soldado do morro."

At.
Thiago