quinta-feira, 16 de julho de 2009

Eduardo Galeano: a palavra e a publicidade

Mídia

Não há dúvida. A palavra tem poder. Influencia. Não volta vazia. Mesmo que repleta de vazio. O que parece importar é o"impacto" e sua absorção. Mas até que ponto? Numa sociedade em consumo, cada vez mais individualista e menos filosófica... a publicidade pós moderna esbange "criatividade" e busca por reconhecimento.

Se você busca a verdade, beba a cerveja Heineken. Quer autenticidade? Fume cigarros Winston. Busca a rebeldia? Compre uma máquina Canon. Está inconformado com a situação do mundo? Coma um hambúrguer da Burger King. Deseja afirmar sua personalidade? Use um cartão Visa. Quer defender o meio ambiente? Espelhe-se no exemplo da Shell.

Resolvi passar o texto de Eduardo Galeano, publicado originalmente na Carta Maior por lidar com propriedade das palavras ligadas à publicidade:

'Hoje em dia, a publicidade tem a seu cargo o dicionário da linguagem universal. Se ela, a publicidade, fosse Pinóquio, seu nariz daria várias voltas ao mundo.

"Busque a verdade": a verdade está na cerveja Heineken.

"Você deve apreciar a autenticidade em todas suas formas":
a autenticidade fumega nos cigarros Winston.

Os tênis Converse são solidários e a nova câmara fotográfica da Canon se chama Rebelde: "Para que você mostre do que é capaz".

No novo universo da computação, a empresa Oracle proclama a revolução: "A revolução está em nosso destino". A Microsoft convida ao heroísmo: "Podemos ser heróis". A Apple propõe a liberdade: "Pense diferente".

Comendo hambúrgueres Burger King, você pode manifestar seu inconformismo: "Às vezes é preciso rasgar as regras". Contra a inibição, Kodak, que "fotografa sem limites". A resposta está nos cartões de crédito Diner's: "A resposta correta em qualquer idioma". Os cartões Visa afirmam a personalidade: "Eu posso".

Os automóveis Rover permitem que "você expresse sua potência", e a empresa Ford gostaria que "a vida estivesse tão bem feita" quanto seu último modelo.

Não há melhor amiga da natureza do que a empresa petrolífera Shell: "Nossa prioridade é a proteção do meio ambiente". Os perfumes Givenchy dão eternidade; os perfumes dão eternidade; os perfumes Dior, evasão; os lenços Hermès, sonhos e lendas.

Que não sabe que a chispa da vida se acende para quem bebe Coca-Cola?
Se você quer saber, fotocópias Xerox, "para compartilhar o conhecimento".

Contra a dúvida, os desodorantes Gillette: "Para você se sentir seguro de si mesmo". '

Na foto:
Eduardo Galeano
Fonte da foto:
www.orelhadolivro.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito das palavras do Eduardo Galeano. Ediane, acertou a idéia de postar o fragmento de um escritor uruguaio tão importante. A equipe está de parabéns.

Diogo Madeira