Luta pela terra
Nos 25 anos de aniversário do Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST), um dos coordenadores do MST e da Via - Campesina , João Pedro Stédile, concedeu entrevista ao Blog Satolep na Contramão. Ele falou sobre: Comunicação, Reforma Agrária , Etanol e Transgênicos.(Entrevista concedida em 20.05.09 por telefone)
Sobre reforma agrária e a democratização da comunicação – Para João Pedro Stédile, ”o inimigo é mesmo”, e reitera. “Esses dias estávamos pesquisando e, fui informado, que associação brasileira do agronegocio, tem cinqüenta e dois sócios , entre os quais está o estado de São Paulo e a rede Globo de televisão”. Para Stédile, é a mesma turma que controla o agronegocio e os meios de comunicação, com o objetivo primeiro de ganhar dinheiro e manipular a opinião das pessoas a favor dos interesses do capital. Os movimentos de reforma agrária e de democratização da comunicação têm até os mesmos inimigos, reiterou Stédile.
Sobre os Transgênicos – o coordenador do MST tem uma avaliação que há uma guerra em curso. Uma batalha foi perdida, com a entrada ilegal das sementes transgênicas, contrabandeadas pela multinacional Monsanto, trazida da Argentina para o Rio grande do Sul. Já no Paraná, o governador Requião, decretou que o Paraná é território livre de transgênicos, e o porto de Paranaguá, não pode escoar soja transgênicas. Em outros lugares do Brasil a batalha dura. Stédile ressalta que, “o que esta por trás da soja e do milho transgênicos, é o objetivo de lucro, não dos agricultores, mas sim das multinacionais”. Falou também que, a EMBRAPA, desenvolve projetos de variedades de sojas tropicais, que são muito mais produtivas que soja modificada geneticamente. A multinacional Monsanto quer atrelar o agricultor ao seu produto, “por que ao plantar a soja Randap, o agricultor tem que comprar o herbicida Randap, é uma armadilha” - disse Stédile. Em estudos feitos pela Associação Nacional de Produção de Defensivos Agrícolas, demonstrou que o consumo de agrotóxicos, em especial os herbicidas, aumentou nos últimos anos no Brasil. “Isso demonstra que, tudo que se dizia sobre os benefícios dos transgênicos, que iria melhorar a produção, não é verdade, a produção da soja está estagnada pelo menos, de cinco a seis anos”, comenta Stédile.
Sobre o etanol – é mais nova forma de colonização, implementada pelos multinacionais norte-americanas, para Stédile, o petróleo é base principal para os veículos nos Estados Unidos. Mas há também uma diminuição de reservas, o preço estabilizado, o aquecimento do clima e os principais inimigos dos norte - americanos tem controle das principais reservas mundias. Há um acordo das principais empresas americanas com o governo, para mudar a matriz energética, passando do petróleo para o etanol. Para Stédile, a visita ao Brasil em 2007 do ex- presidente Bush tinha um propósito, de conversar com empresários brasileiros, os americanos entram com o capital, para construir cem usinas de álcool, os empresários brasileiros entram com a mão- de- obra. Para o Brasil será um desastre. Diz Stédile, “Pois a cana -de – açúcar gera problemas ambientais gravíssimos, que é o da monocultura, no canavial não há biodiversidade, é comprovado também que há aumento da temperatura, em Ribeirão Preto (SP), onde tem uma grande concentração de canaviais, há um acréscimo de meio grau nos últimos anos, e diminuiu o volume de chuvas em 120mililitros”. Uma das regiões mais pobres do Brasil é litoral nordestino, onde o índice de analfabetismo é o mais alto, pois lá, se cultiva cana na forma de monocultura há quatrocentos anos, complementou Stédile.
Sobre o segundo mandato do governo LULA – Para o líder do MST, o governo LULA fez uma inflexão para direita, isso significa que o governo vai dar mais dinheiro para agronegocio, do que para reforma agrária. Na avaliação João Pedro, o governo assinou sete compromissos com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra e, não cumpriu nenhum. “Agora para Votorantin, o governo abriu um linha de crédito no BNDES, de seiscentos milhões de reais, para expansão do eucalipto na região sul”, diz Stédile. O MST possui convênio quarenta e duas universidades brasileiras, possui uma boa organização interna e vai continuar luta pela reforma agrária , ou seja , cumprindo com o seu papel de movimento social organizado.
Sobre comunicação da Esquerda - Stédile comenta que, há dois motivos para não consolidação de instrumento de comunicação para classe trabalhadora, para ele, há uma crise ideológica na esquerda e, um descenso do movimento de massa. Os partidos e sindicatos que têm dinheiro caiem na ilusão, que é dando uma entrevista para RBS e para outro grande meio de comunicação, que isso é democratizar a comunicação, ledo engano. No passado havia uma grande gama de jornais e rádios da esquerda, o partido comunista chegou a ter três jornais diários, na época. Hoje com o neoliberalismo, que vem gerando uma despolitização dos nos movimentos, ou seja, partidos políticos preocupados com eleições e sindicatos cada vês mais corporativos.
João Pedro Stédile fala no XIII Encontro Nacional do MST no assentamento Anonni